High Yield: O Spread Atual Paga o Risco?

O mercado financeiro está entrando em recesso. Enquanto isso, o investidor de varejo se distrai com o rali de fim de ano. Contudo, uma bomba relógio silenciosa está tiquetaqueando nas carteiras de Renda Fixa.

O investidor médio brasileiro sofre de uma miopia perigosa. Ou seja, ele olha apenas para a taxa nominal final. Se um Certificado de Recebíveis (CRI/CRA) oferece “CDI + 2,5%”, ele aporta. Assim, ele ignora completamente o que está “debaixo do capô” da empresa.

Estamos encerrando 2025 e o ciclo de aperto monetário deixou marcas. Empresas alavancadas rolam dívidas a custos altíssimos. No entanto, o mercado vive uma anomalia: a compressão dos spreads.

Se você possui títulos de dívida privada que não sejam High Grade (AAA), esta leitura é obrigatória.


A Matemática do Perigo

Para começar, precisamos entender o conceito. O spread de crédito é a diferença entre o rendimento de um título corporativo e um título público livre de risco (como o Tesouro Selic). Esse prêmio existe por um motivo: compensar o risco de calote.

Em um mercado racional, a lógica é simples. Portanto, Risco Maior deve ser igual a Prêmio Maior. Quando a economia desacelera, o risco aumenta. Consequentemente, o spread deveria aumentar.

Mas o que acontece agora? Exatamente o oposto.

Devido à alta liquidez, os investidores aceitam spreads baixos para riscos altos. Por exemplo, comprar uma debênture High Yield hoje, com prêmio de 1,5% acima do CDI, é ineficiente.

Legenda: O caminho estreito entre o lucro e o abismo

Imagine que a inadimplência esperada no varejo seja de 3%. Se o título paga apenas 2% de prêmio, a conta não fecha. Nesse caso, você está pagando para correr risco. É como pegar moedas na frente de um rolo compressor.

O Cenário Macro: A Muralha de Refinanciamento

Segundo dados recentes da ANBIMA , diversos setores enfrentarão a “Muralha de Refinanciamento” em 2026. Isto é, dívidas antigas vencem e precisam ser renovadas a táxons mais caras.

Setores com margens estreitas sofrem mais. Especificamente, o Varejo e a Construção Civil veem sua geração de caixa ser corroída pelos juros.

A tríade da destruição de valor está montada:

  1. Primeiramente, o custo da dívida segue elevado.
  2. Além disso, o consumo das famílias estagnou.
  3. Finalmente, o Índice de Cobertura de Juros (ICJ) caiu.

Investir nesses papéis agora é uma aposta cega. Dessa forma, você aposta que a economia será estelar nos próximos 24 meses. Vale a pena o risco?

A Solução: Flight-to-Quality

O investidor profissional sabe se defender. A estratégia recomendada pelo O Diário do Investidor é o Flight-to-Quality. Ou seja, o voo para a qualidade.

Isso não significa sair da Renda Fixa. Ao contrário, significa purificar a carteira. Você deve migrar de emissores duvidosos para o Crédito High Grade. Estamos falando de:

  • Utilities: Transmissoras de energia e saneamento. Elas possuem receitas previsíveis.
  • Grandes Bancos: Instituições sistêmicas com alta liquidez.
  • Títulos Públicos: A segurança máxima.

Talvez você abra mão de 1% de rentabilidade. Por outro lado, você ganha solvência. Você dorme tranquilo sabendo que seu principal está protegido.

Legenda: A fortaleza da solidez financeira

Conclusão

O mercado de crédito é impiedoso. Quando a percepção de risco muda, a porta de saída fica estreita.

Hoje, ainda há liquidez para vender papéis ruins. Entretanto, amanhã os preços podem despencar. Não deixe a euforia do Natal nublar seu julgamento.

Revise sua carteira hoje. Se o spread é magro e a dívida é alta, venda. Aqui no blog, a regra é clara: o retorno do capital é mais importante que o retorno sobre o capital.

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